Nossa agricultura criativa

Uma fertilidade natural reside no diálogo entre arte e meio ambiente. Plantamos arte no espaço rural para cultivarmos a nós mesmos. Aqui a noção de agricultura se amplia. Nossa agricultura cultiva junto com as plantas uma rede de conhecimentos ancestrais que florescem na profundidade artística de nossos folguedos tradicionais e espetáculos teatrais.

"Nós cultivamos os cafeeiros e eles nos cultivam.  Somos cultivados por nossas águas, nossas florestas, nosso meio ambiente e florescemos em arte e criatividade."

O encontro entre agroecologia e arte rural em nosso território é complementar. Ambos movimentos de vanguarda ambiental, ambos buscando novas referências. Pensamos a arte enquanto elemento construtor da qualidade ambiental.  Reconhecemos a importância dessa atividade como forma de resiliência  e proteção de conhecimentos e biomas.

Agricultura Criativa

O Café

A Fazenda Tulha possui o terroir influenciado pela região montanhosa onde se situa, o “Sul de Minas”, com uma altitude média de 1000 metros, fator de grande relevância para a produção de cafés especiais. Nosso processo produtivo além de ser voltado à produção de cafés que proporcionem uma boa experiência sensitiva, também engloba a produção de qualidade ambiental de nosso território, incluindo a qualidade de vida humana.

Certificações

A Fazenda Tulha possui a certificação “Certifica Minas Café” e a certificação para produção orgânica “IBD”. Nosso empreendimento não vê as certificações apenas como uma ferramenta para gerar credibilidade aos nossos clientes, mas também como um teste para a qualidade de nossa gestão.

Terroir

O conjunto de fatores que influenciam a qualidade do grão de café, como solo, altitude, latitude, longitude, irradiação solar, biodiversidade e manejo, formam o agroecossistema que dará as condições da produção na lavoura. O conjunto desses fatores é conhecido no campo da degustação como terroir.

A Fazenda Tulha possui o terroir influenciado pela região onde se situa, o “Sul de Minas”. Essa é a região das montanhas cafeeiras, havendo uma altitude média na fazenda de 1000 m. Essa altitude fornece uma boa amplitude térmica, com noites frias e dias quentes. Essa condição faz com que haja um amadurecimento lento dos frutos do café, ideal para um maior acúmulo de compostos organolépticos que podem proporcionar uma bebida complexa e convidativa aos nossos sentidos.

As estações do ano são bem definidas, onde há um verão chuvoso e o inverno seco. A colheita ocorre durante o período seco, ideal para a secagem natural do fruto do café nos terreirões. Outra característica marcante de nosso terroir é o nosso solo fértil e profundo classificado como Argissolo Vermelho-amarelo distrófico. Por sua fertilidade natural, nosso solo possui aptidão para a exigente cultura cafeeira.

Outro elemento de nosso Terroir é o bioma da Mata Atlântica, onde estamos inseridos. Esse bioma possui uma das maiores biodiversidades do mundo, havendo uma alta atividade biológica. Nesse sentido, cultivamos nossos cafeeiros em sintonia com essa atividade, buscando o controle das pragas dos cafeeiros através da conservação de seus predadores no sistema agrícola. A atividade microbiológica do solo também é respeitada, por fornecer fertilidade e controle de pragas e doenças do solo.

O fator humano não está fora do terroir, cabendo aqui ser citada sua parte relacionada ao cultivo do cafeeiro. Por ser uma antiga região produtora de café, há uma herança de traços tradicionais da cafeicultura relacionados ao alto investimento energético para a manutenção do sistema produtivo, investimento antes condicionado pela mão de obra escrava e posteriormente assalariada. Hoje o investimento energético é representado pelo alto uso de insumos agrícolas sintéticos, como herbicidas, fungicidas, inseticidas e adubos químicos.

A Fazenda Tulha, no entanto, é um ponto “fora da curva”. Com uma distinta visão técnica, a fazenda direciona suas práticas agrícolas aos fluxos ecológicos nativos, afinando sua escuta aos fatores que compõem o agroecossistema para não ir contra eles, e sim compreendê-los e assimilá-los à nossa agricultura. Nesse caminho conseguimos reduzir nosso investimento energético no sistema, reduzir a incidência de pragas, e favorecer um solo dinâmico e ativo que resulta em uma bebida complexa aos nossos sentidos.

Nós enquanto agricultores somos um elemento ativo no terroir de nossos grãos. Porém sabemos que não estamos sós, apenas somos um dos componentes dessa rede de fatores que condiciona a qualidade de nossa colheita.

Colheita

Nossa colheita é feita de forma a priorizar a produção de cafés especiais. Antes de iniciar a colheita monitoramos a qualidade de bebida de cada área do território, colhendo pequenas amostras de frutos para a prova. Mapeada a qualidade de bebida das áreas, o índice de amadurecimento dos frutos deve ser observado, pois os cafés especiais têm seus potenciais expressos quando são colhidos no ponto ideal de maturação, conhecido como fruto cereja.

Com essas informações em mãos podemos ordenar nossa colheita por área de cultivo. A diferença de qualidade de bebida e maturação de cada área pode ocorrer por diversos fatores, como a variedade do cafeeiro, tratos culturais, ou variáveis ligadas à localização da área, como altitude, solo, incidência solar e umidade. Em geral, a colheita na Fazenda Tulha ocorre entre maio e agosto,  período do inverno, com noites frias e clima seco, momento em que os frutos amadurecem. Nossa colheita é manual e seletiva, onde é  priorizada a mão de obra feminina, tendo em vista sua maior delicadeza no trato com o cafeeiro.

Pós-colheita

O primeiro processo pós-colheita é a lavagem dos frutos com água. Nesse processo são retiradas as impurezas aderidas à casca do fruto. No contato com a água também ocorre sua seleção por densidade, onde os frutos maduros e bem formados afundam em água, enquanto frutos verdes, frutos passas, e frutos mal formados,  ou com defeitos bóiam. Assim os frutos são separados de acordo com sua densidade.

Após a lavagem, o café pode ir direto ao terreirão, processo de secagem natural, onde o grão é secado junto à  casca e a polpa, formando o “café em coco”. Outra opção é o café ir para o despolpador, onde a casca dos frutos é retirada, formando o  “CD”, cereja descascado. Após a despolpa, os frutos são encaminhados ao terreirão. Pesquisas atuais indicam que o café natural tem a  tendência de produzir bebidas mais doces e encorpadas. A vantagem do cereja descascado é seu menor volume e secagem mais rápida, abrindo espaço no terreiro para outros lotes de cafés.

O que pode afetar a qualidade da bebida de forma significativa no pós-colheita é a organização do terreirão, separação dos lotes de café de acordo com suas características, a ocorrência de chuvas, e a velocidade da secagem do café.  O agricultor deve se relacionar com esses fatores de forma a valorizar as particularidades do seu produto e evitar fermentações indesejáveis. A finalização da secagem do fruto ocorre quando este atinge uma umidade no intervalo entre 11 e 11,5% de umidade

Agrofloresta

Em sintonia com a vanguarda da agroecologia e com as urgências da biosfera, a Fazenda Tulha dedica áreas para a implantação de sistemas agroflorestais. Dos 70 hectares destinados à agricultura, 6 hectares são destinados ao café agroflorestal, modelo a ser ampliado para toda a fazenda.

O cafeeiro é uma planta originária dos sub-bosques das florestas da Etiópia, norte da África, sendo uma planta adaptada a ambientes sombreados. É consenso dentro das lavouras cafeeiras de que sombreamento de até 30% não afeta a produção do cafeeiro e pode trazer muitas vantagens. Algumas vantagens já são reconhecidas, como:

  • Proteção das adversidades climáticas, como chuva de pedra, geadas, altas temperaturas, e ventos fortes.
  • Incremento de matéria orgânica no solo através da maior produção de biomassa no sistema.
  • Maior ciclagem de nutrientes no sistema através de raízes em estratos diferentes do solo.
  • Aumento do controle natural conservativo de pragas, pois a arborização favorece os inimigos naturais das pragas do café, fornecendo abrigo e alimento alternativo para que possam completar seu ciclo de vida e se fixarem no sistema.
  • O sombreamento aumenta a qualidade da bebida do café, pois aumenta o tamanho dos grãos do café, aumenta o tempo de amadurecimento dos frutos do café, permitindo maior acúmulo de compostos organolépticos que favorecem a qualidade da bebida, reduz a heterogeneidade do amadurecimento dos frutos do café, permitindo uma colheita eficiente do fruto maduro.
  • O cafeeiro em sistema sombreado tem sua bianualidade reduzida, ciclos de produção compostos por um ano de alta produção e um ano de baixa produção, aproximando as produções dos anos agrícolas à uma média.
  • O sombreamento reduz o crescimento de plantas espontâneas, diminuindo a necessidade de roçadas.

Para alcançar tais objetivos utilizamos em nossas áreas a pupunha, a bananeira, o eucalipto e o ingazeiro. Plantas rústicas e de crescimento rápido, eficientes na transformação do agroecossistema no sentido de aumentar sua estabilidade, sua autonomia energética e sua biodiversidade. Características presentes nas florestas nativas, principal referência desses sistemas.

Agrofloresta | Fazenda Tulha
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